sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Diário de Bordo Por Michael Caldato (Prelúdio - Pato Branco PR)

Depois da "Tour" de Marcelo Nova no velho oeste, Michael Caldato da banda Prelúdio me mandou via e-mail este diário, que conta o que realmente é Marcelo Nova e como foram os três dias em sua companhia.


Um carro quebrado, um hippie descalço e Marcelo Nova nos espera

Aquele maldito calor as quatro e tantas da tarde misturado com a poeira da estrada. Em alguns minutos nos encontrávamos saltando porta afora da van entupida de amplificadores e coca-cola. Graças a nossa sorte, encontramos um hippie lavando sua sandália numa fonte natural beirando a rodovia e então: água da fonte do hippie, no motor do transporte que fervilhava como uma caldeira de aço.

Duas horas amargando aquela inquietude que não abranda até o sinal verde do mecânico. Um cara baixinho e meio gordo, com fala de voz aguda, engraçada, e uma tatuagem mal feita em forma de chave de boca no braço. Cobrou caro que doeu no bolso. Partimos outra vez rumo a Foz do Iguaçu, onde então, encontraríamos Marcelo Nova e teríamos a primeira noite de uma série de três, em que o acompanharíamos como: banda, produção e se tudo desse certo, como roqueiros profissionais.

Um trovador, isso é o que ele é

O Nova quer ser chamado de você, mas garanto que é um senhor, um senhor com vigor, é claro, mas é um senhor. Um “Roqueiro Cinquentão”. Conheço o trabalho de Marcelo Nova desde os treze anos. Primeiro com a “Camisa de Vênus”, depois com a “Panela do Diabo”, disco que fez junto com Raul Seixas.

Depois de um bom tempo conversando pelo telefone, falando sobre o mundo e seus conflitos, gripe suína, fanatismo e influencia da mídia, resolvemos por fazer uma pequena série de shows, onde a Banda Prelúdio o acompanharia. Marcelo Nova veio acompanhado de sua esposa Inês e do filho Dreik. A família Nova carrega uma simplicidade bonita e requintada na bagagem. Vale aqui um elogio a Inês, pela sua elegância e simpatia.
Começamos por Foz do Iguaçu, onde a sorte não nos sorriu e as poucas pessoas que compareceram ao show saíram satisfeitas de criticas ao sistema em um show/palestra. O tipo rock antigo, com sua guitarra semi acústica Gibson 1988, foi trocado por solos de blues, levadas de rock e improvisos. Minha guitarra modelo Stratocaster caiu nas mãos de Marcelo; seu filho Dreik e Renan Bank dividiram os solos. Èrick Cobalchini na bateria, Jean Venâncio no baixo completaram a banda. Três shows que serviram como ensaio e em cada um deles uma surpresa. Toledo contou com citações de AC/DC, Raul Seixas e um bolero para “Beth Morreu”. Em Pato Branco, o calor do dia foi compatível ao do público e o ensaio foi quase um concerto.

Os improvisos de vocal, os trechos colados nas músicas, tudo isso unido a “Quando eu Morri”, “Outubro de 65”, músicas gravadas em estúdio por Marcelo, fazem dele, um trovador. Utiliza o rock como base e fala seus pensamentos, conta suas estórias. Um ator encenando a própria vida e as surras que ela deixou que levasse no palco ou fora dele. Um negociante livre de empresários e contratos. Um compositor do tempo e do cotidiano. Um eterno questionador das verdades absolutas.

Um filósofo. Esse titulo cabe, porque a esperteza enrustida no semblante medonho e nos olhos desconfiados, desaparece quando qualquer ato bem pensado em seu redor, toque o seu coração.

É o velho clichê da fama de durão. Com certeza ele é durão, as vezes chato, hora nervoso, mas sem dúvidas uma grande figura, com um humor cínico e verdadeiro. E ainda me explica o porquê de não ser simpático sempre: “Imagina você, trinta anos entrando em lugares desconhecidos, com pessoas desconhecidas bêbadas ou fazendo piadinhas ou tentando puxar o seu saco. Como é que fica?”

Drogas nunca mais. Segundo ele, não assiste mais televisão (apesar da sua filha, Penélope, ser apresentadora ou “Vj” da MTV), toma água e refrigerante, nunca mais ácido lisérgico. Ao que representa um pai conservador embora sem papas na língua. Se restarem dúvidas sobre suas filosofias, sua carreira musical, ou suas visões e pontos de vista sobre o mundo, o conselho que posso dar com a propriedade de conhecedor da obra e do criador é o seguinte: ouça “O galope do Tempo”, disco que demorou nada menos que 13 anos para ficar pronto. Nele se encontram as respostas para essas dúvidas.

Mantenho minha posição de fã há mais de dez anos, que coloca o músico/filosofo num patamar elevado profissionalmente, afinal de contas, jovens e alguns já adultos agora, que não o tenham notado nos últimos trinta anos, precisam rever seus conceitos. Agora na posição de amigo recente diria que: Marcelo Nova para mim, é outro depois de ter feito “A Balada do Perdedor”, e depois da nossa primeira despedida onde apertamos nossas mãos e nos desejamos boa sorte e boa viagem. Despedida tão bonita quanto uma canção velha de Bob Dylan.

3 comentários:

Anna Lorenzoni disse...

Esse depoimento me surpreendeu. Achei o Marcelo Nova muito antipatico. Tanto que não quis ir no ultimo show dele aqui em Toledo. Mas, realmente, 30 anos tendo que ser simpatico com todos, deve encher o saco! Entretanto, ele escolheu essa carreira...

Rafael Meneghini disse...

Pois é, a impressão que ele passa é essa mesma, mas como tu disse...
As vezes não custa demonstrar um pouco de simpatia, ainda mais para com aqueles que fazem ele ser o que é!

Unknown disse...

Meu amigo Michael foi extremamente competente nas palavras. O que tenho a dizer é que todos precisávamos um pouco mais de tempo com Marcelo Nova( tempo esse que eu tive o privilégio de ter), só assim entenderíamos um pouco mais sua personalidade controversa, mas honesta, autêntica, como é o "Rock'n'roll".